Eu odeio gente boazinha”, desabafava a insigne docente de direito tributário nas manhãs de sábado da PUC/Contagem.
Para ancorar a sua tese, tomava como exemplo um caso de fraude no antigo Bolsa Escola, benefício social do Governo Federal que visava diminuir a exploração do trabalho infantil através da freqüência obrigatória à escola. No caso, quando o aluno estava ausente era sinal de que estava trabalhando para ajudar no orçamento familiar, situação que além de lhe expor a riscos comprometia o seu futuro, impedindo-lhe o acesso a educação. Desta feita, para que a família pudesse receber o benefício, deveria cuidar para que o filho freqüentasse as aulas, do contrário, o dinheiro não viria ao final do mês.
Para ancorar a sua tese, tomava como exemplo um caso de fraude no antigo Bolsa Escola, benefício social do Governo Federal que visava diminuir a exploração do trabalho infantil através da freqüência obrigatória à escola. No caso, quando o aluno estava ausente era sinal de que estava trabalhando para ajudar no orçamento familiar, situação que além de lhe expor a riscos comprometia o seu futuro, impedindo-lhe o acesso a educação. Desta feita, para que a família pudesse receber o benefício, deveria cuidar para que o filho freqüentasse as aulas, do contrário, o dinheiro não viria ao final do mês.
Pois bem, certa feita os jornais noticiaram um logro: professoras lançavam presença para quem estava ausente. Em entrevista, uma estelionatária “boazinha” se explicou sob o argumento de que não seria justo deixar a família pobre sem o benefício. Assim, a razão de ser do bolsa família - proteção à criança – se perdeu: a exploração continuou e o futuro do infante restou comprometido, haja vista que sem estudo não se poderia atribuir-lhe melhor destino. Em síntese: sob o argumento de se fazer justiça se cometeu uma injustiça ainda maior.
Gente boazinha é assim, faz o mal com o pretexto de fazer o bem. São cheias de si, vaidosas, irresolutas, incapazes de fazer qualquer reflexão. Cometem atrocidades e não lhes dói a consciência. Querem estar de bem com todo mundo a qualquer tempo, por isso não batem de frente com ninguém. Quando no serviço público têm tendência à ineficiência, à corrupção e ao favorecimento. Aliás, os maiores corruptos da história brasileira são bonzinhos, simpáticos, andam sorridentes e distribuem “panetones” aos montes, pois é “dando que se recebe”. Quem não se lembra da cena de um bonzinho religioso fazendo uma oração para agradecer a Deus pela benção (leia-se: dinheiro sujo) alcançada?
Não se pode esquecer, ainda, dos pais “bonzinhos” que não ensinam regras e nem impõe limite aos filhos. Realizam todos os seus desejos contribuindo para lhes transformar em verdadeiros escravos de si mesmos. Daí quando crescem e se deparam com um mundo onde nem tudo é possível e permitido viram pessoas fúteis, amargas, frustradas e, não raro, transgressoras. Tudo isto porque são acostumadas ao prazer rápido e efêmero, sendo incapazes de pensar e trabalhar um projeto a longo prazo; como egoístas que são, nunca trabalharão para as grandes causas e, certamente, deixarão como herança um mundo pior do que aquele que receberam.

Por isso é que eu jogo no time dos maus.
Ser mau não é fácil. Temos nossas convicções, nossos princípios e idéias, mas não somos turrões. Como enfrentamos tudo e todos a qualquer tempo somos forçados a refletir constantemente. Quem é mau tem insônia, pois antes de dormir reavalia tudo aquilo que fez durante o dia para certificar-se da correção. O bonzinho não: deita na cama e dorme.
Até Jesus (o de verdade: não o Inri nem o da Madona) era mau. Quantas vezes teve que ser duro com seus discípulos, pois o tempo para ensinar-lhes as lições era curto. Daí não ser estranho que, em um episódio famoso, o cara saiu “embicudando” as bancas dos “vendilhões do templo” para ver se assim entendiam o verdadeiro sentido da oração. Aliás, se Cristo fosse bonzinho não teria sido crucificado: decerto teria feito um acordo com Pilatos ou com os chefes judeus e conseguido um cargo público comissionado, onde poderia distribuir pão e circo aos pobres e ajudar aos moribundos. O problema e que ficaríamos sem um salvador, e os ideais cristãos de amor ao próximo e benevolência não se propagariam. Não teríamos os santos nem os mártires, e talvez a humanidade estaria em um estado tamanho de selvageria e agressividade – maior do que os já vistos– o que tornaria impossível o modo de vida atual.
Portanto, até segunda ordem; até que hoje eu deite na cama e reflita sobre tudo aquilo que, pensei, falei, fiz, e escrevi; sobre todas as pessoas que encontrei; sobre todas as idéias que confrontei; sobre todas ações que realizei ou deixei de realizar estou convencido de que ser incondicionalmente bom é ser do “mal” e, por vezes, é preciso ser “mau” para ser do “bem”.¢
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